As Serpes estavam diante de nós — sombras aladas recortando o horizonte abrasador, seus rugidos ecoando como trovões profanos. Gyodai permanecia imóvel por um instante, perdido nos devaneios da Tormenta, com os olhos tingidos de rubro e insanidade. O ar ao seu redor tremia.
Kobta — ou melhor, os Kobtas — se movem em perfeita sincronia. Um quinteto de sombras reptilianas, cada um empunhando uma pistola prateada. Ele engole uma poção de velocidade, e seu corpo parece dobrar o tempo ao redor. As vozes sussurram o mesmo feitiço, preparando uma firula inspiradora que mais parece um balé da morte. As pistolas disparam em sequência — PÁ! PÁ! PÁ! — e uma das Serpes ruge ao ser perfurada no ar, sua carne chamuscada por pólvora mágica.
De repente, o chão se rasga.
Surge Cerianthar, um monstro abissal com uma bocarra que mais parece um abismo vivo e tentáculos retorcidos como raízes infernais. Ele ataca Kobta com fúria, mas os kobolds ladinos se espalham como ecos. Um deles ergue o Escudo da Fé, e a explosão mística rebate os tentáculos, queimando-os com luz sagrada.
Outro Cerianthar emerge ao lado de Sir Finley, agarrando-o com um golpe que faz o ar escapar de seus pulmões. Um dos tentáculos crava na perna direita do tabrachi, rasgando carne e deixando um rastro de sangue escuro e escaldante. Finley, mesmo contorcendo-se de dor, reage — a língua dispara como um chicote vivo, perfurando o olho do monstro e espalhando um líquido espesso e fétido.
Enquanto isso, Anastásia ergue seu tomo necromântico, e o ar muda. Uma onda fria percorre o campo de batalha. Com um gesto, ela lança Amendontrar — e o medo se espalha como uma doença. As Serpes hesitam, tremendo sob o poder da necromante. Logo, uma névoa espessa envolve o grupo, ocultando aliados e confundindo os inimigos.
As Serpes atacam.
Uma delas crava o ferrão em Finley — o veneno escorre, mas o tabrachi range os dentes e resiste. Kobta gira entre disparos e fumaça. As balas mágicas cortam as asas de uma Serpe, e ela despenca em meio a gritos estridentes.
Glomer, sempre imprevisível, arremessa uma de suas bombas artesanais. A explosão consome uma das Serpes, que cai ardendo em chamas verdes.
Do alto, surge uma nova presença.
Uma Serpe Anciã — enorme, majestosa e hedionda. Suas escamas brilham com luz corrosiva, e seus olhos revelam a mente fria de uma fera criada por Megalokk.
Gyodai desperta.
O lefou rosna, as veias rubras pulsando com energia da Tormenta. Ele salta dimensionalmente, surgindo ao lado de Sir Finley e o arrastando para longe dos tentáculos do Cerianthar. Um campo de força se ergue, faiscando contra os golpes grotescos.
Kobta, sem hesitar, gira suas pistolas e dispara seu ataque especial. Três tiros ecoam em harmonia — um em cada coração que a Serpe possuía. O monstro se contorce e desaba.
Mas o campo de batalha continua vivo.
Tentáculos golpeiam, fogo cai do céu, e a névoa brilha com energia necromântica.
Finley, com a perna ferida, avança mancando e acerta o Cerianthar com um golpe preciso de seu chicote envenenado, quebrando um dos tentáculos.
Anastásia conjura Mente Divina em Massa, e a clareza invade nossas mentes. Em seguida, o Manto das Sombras cobre a conjuradora, a em silhuetas etéreas.
As Serpes rugem, despejando ácido sobre nós. Kobta salta e rola, escapando com a leveza de uma folha. As gotas que tocam o chão fumegam e derretem a pedra.
Gyodai, em fúria, ativa Velocidade e Armamento da Natureza. Seus múltiplos braços se movem como lâminas carmesim, golpeando o Cerianthar até atordoá-lo, rasgando-lhe a bocarra em duas.
Kobta dispara outra sequência — três tiros precisos, e mais uma Serpe despenca, quebrando as asas em queda.
Finley finaliza o Cerianthar atordoado com um estalo de chicote que o corta ao meio.
Então, a Serpe Anciã avança.
Anastásia ergue sua varinha e conjura Metamorfose. Num lampejo grotesco, a fera se retorce e se transforma — penas negras surgem onde havia escamas. Uma galinha preta gigante cacareja em desespero.
Outra Serpe é cegada pela Escuridão e ataca às cegas, errando Glomer por um fio.
Gyodai agarra a “galinha anciã”, e seus golpes caem como martelos, quebrando ossos, esmagando asas, e tingindo o chão de sangue. Kobta dispara, Sir Finley chicoteia com crueldade, e Anastásia invoca um Miasma Mefítico que apodrece o ar.
Com um último golpe, Gyodai derruba a galinha anciã inconsciente.
Kobta dispara uma última salva de tiros, e Sir Finley finaliza a Serpe restante com uma chicotada que ecoa como um trovão. Silêncio.
Mas o silêncio não dura.
A galinha anciã começa a brilhar, deformando-se de volta à sua forma dracônica. Com um rugido que sacode o solo, ela se liberta e voa aos céus, como se retornasse à vontade de Megalokk.
Uma luz brilha sobre nós — não de bênção, mas de recompensa brutal. A energia da fera se dispersa, restaurando nossa força e mana. Uma dádiva involuntária do deus dos monstros.
Enquanto removemos o veneno das feridas, Gyodai se aproxima de Schaven, observando-o de longe, mas com voz firme:
“Que tipo de habilidaddes tem o seu irmão, o barão de Tyros?”
Schaven o encara com um meio-sorriso.
“Um estudioso. Mas… um estudioso do tipo perigoso. Um arcanista muito dedicado.”
Gyodai fecha o punho, e as runas rubras brilham sob sua pele.
A próxima batalha — uma guerra de feitiços e poder arcano — já se anuncia no horizonte.
Texto por Roberto Oliveira.
Revisão por Leandro Carvalho.
Imagens geradas por IA por Rafael Soares.