domingo, 31 de agosto de 2025

Fígados, Lagartos e Trovões

 




Gyodai parecia distante, em transe, a mente fundida com o tormenta. Seus olhos ardiam com o reflexo da tempestade, como se estivesse prestes a devorar o próprio céu

Kobta, sempre bufão e cruel, saltava em acrobacias que mais lembravam um ritual macabro. Seus reflexos ilusórios se multiplicavam, como se várias sombras famintas rodeassem o campo, prontas para dilacerar.

Beleg, em silêncio, ergueu a garrafa. A poção de velocidade queimou suas entranhas, e a de concentração fez seus olhos arderem como carvões em brasa. Quando exalou, parecia um predador arqueando o corpo para disparar morte.

Jalin ergueu sua voz e cortou o ar como uma lâmina.

— O fígado do lagarto trovão será de Gyodai!

A sentença caiu sobre nós como maldição. Sua capa ondulou, viva, e a pistola rugiu. O projétil entrou no flanco colossal de Batham e explodiu sangue em jatos grossos, tingindo árvores próximas. A criatura rugiu, o som quebrando o ar, mas resistiu à adaga mental que tentou dilacerar sua mente.

Gyodai não esperou. Bebeu a poção, ativou a tatuagem. Seu corpo se dilatou, músculos inchando até as veias rasgarem a pele. O Punho de Mitral brilhou prateado, e quando atingiu Batham, não foi apenas um soco — foi um terremoto. Ossos imensos estalaram, dentes de marfim foram cuspidos junto de sangue viscoso.

Bolgg, tomado pela poção divina, se agigantou ainda mais. Veias saltavam como cordas sob sua pele monstruosa. Empunhando a espada executora, desceu o aço sobre Batham e abriu um sulco profundo no ombro da besta. O golpe cortou tendões, e a pata dianteira pendeu mole, quase arrancada. O brontossauro urrava, a carne se dilacerando em fitas.

O Grande Batham reagiu. Ergueu-se em duas patas e desabou sobre nós. O impacto abriu crateras no chão. Kobta foi esmagado contra o solo, ossos trincando com estrondo. Jalin voou pelos ares, cuspindo dentes misturados com sangue. A cauda varreu o campo como guilhotina, atingindo Bolgg no peito. O impacto foi tão violento que costelas se partiram, a carne abriu, mas ele se manteve de pé — um colosso ensanguentado que recusava cair.

Beleg disparava. Suas flechas cortavam o ar como estiletes, entrando no corpo da besta e saindo do outro lado em borrifos carmesins. Uma atingiu o olho do Batham, estourando-o em gosma quente que escorreu como lava.

Kobta, gemendo, levantou-se das sombras. Saltou sobre a pata ferida e afundou sua lâmina entre as juntas, rompendo ossos e rasgando veias grossas como cordas. O sangue jorrou, cobrindo-o da cabeça aos pés.

Jalin retomou o fôlego e sua adaga mental mergulhou na mente do colosso. O Batham cambaleou, ensandecido, olhos revirando-se nas órbitas enquanto sua consciência se despedaçava.

Era a brecha.

Gyodai, multiplicado em braços, socava como uma enxurrada de martelos. Cada golpe arrebentava escamas, triturava ossos e fazia a carne abrir em crateras sangrentas. O peito do Batham afundava sob o bombardeio, pulmões colapsando, costelas estourando para fora em lascas ensopadas.

Bolgg, arquejando, ergueu a espada executora mais uma vez. A lâmina brilhou na chuva e desceu num arco monstruoso. O golpe atravessou carne, nervos e metade do pescoço da criatura. O sangue jorrou como uma cachoeira rubra, encharcando todos nós. O brontossauro tentou rugir, mas a garganta aberta só deixou escapar um gorgolejo horrível.

O titã tombou. Seu corpo colossal sacudiu a terra, árvores se partiram com o impacto, e o silêncio só foi quebrado pelo som de seu sangue formando um rio vermelho.

Thrak’Zul não perdeu tempo. Como um açougueiro macabro, enfiou as mãos e lâminas nas entranhas. Rasgou a barriga de Batham de cima a baixo, e o vapor quente das vísceras encheu o ar. O coração pulsava ainda, cada batida cuspindo sangue grosso; o fígado reluzia com energia do trovão, faiscando como metal em brasa.

Gyodai espalhou sua secreção cicatrizante sobre os aliados, e a dor foi insuportável. A carne se fechava rangendo, os músculos queimavam, e todos vomitavam enquanto as feridas se fechavam à força.

No centro do círculo ensanguentado, Thrak’Zul ergueu os órgãos sagrados.

— Sangue pelo sangue. Carne pela força.

O coração latejante foi entregue a Bolgg, que o devorou com as mãos ainda sujas, o peito manchado até os cotovelos. O fígado faiscante foi dado a Gyodai, que o engoliu enquanto o trovão rugia, seu corpo tremendo como se fosse arrebentar.

O céu explodiu em clarões. E naquele momento, ficou claro: não eram mais apenas aventureiros. Eram monstros maiores que o próprio Batham.


Texto por Roberto Oliveira. 

Revisão por Leandro Carvalho. 

Imagens geradas pelo IA sob responsabilidade de Roberto Oliveira. 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Espadas e Cervos




A Primeira Provação de Kobta – O Kobold Ventanista


Após a dura batalha contra os orcs (conforme relatado na sessão anterior no blog), o Grupo Cobra Véia recuperava suas forças quando notaram a aproximação de uma figura encapuzada.

Gyodai, surpreso, exclamou:

— Travoc?

Kobta, um tanto nervoso por nunca ter visto aquele grupo antes, respondeu de forma trêmula:

— Sim… sou eu.

Gyodai se aproximou, iniciando uma conversa sobre velhos tempos. Mas, conforme o diálogo avançava, a farsa de Kobta caiu por terra. Sem alternativa, ele revelou a verdade: contou como conheceu Travoc e explicou seu disfarce. Para sua sorte, o Grupo Cobra Véia compreendeu a situação e o acolheu como novo integrante.


Missões Paralelas e Reencontros


Logo depois, Gyodai partiu junto de Aric rumo ao acampamento dos orcs.

Aric, mantendo sua identidade de herói mascarado, decidiu retornar a Vectora para investigar um grupo de bandidos que lucrava com o tráfico de monstros. Antes de se despedir, entregou a Gyodai algumas poções de mana, dizendo que poderiam ser úteis.

Enquanto Gyodai seguiu sua missão, Kobta permaneceu com Beleg, Bolg e Jalim, avançando pelas florestas de Galrásia. Bolg, como líder, assumiu a dianteira, enquanto Kobta se ofereceu como batedor, verificando possíveis armadilhas.


O Encontro com os Espadas da Floresta


Nas profundezas traiçoeiras de Galrásia, Kobta enfrentou sua primeira provação. O grupo avistou uma criatura adiante e se preparou para o combate. Bolg tomou a frente, e Kobta, usando furtividade, se posicionou — mas, por ironia do destino, acabou escondendo-se ao lado de um inimigo: um Espada da Floresta, mestre em camuflagem no ambiente.

Quando a luta começou, um dos inimigos investiu violentamente contra Bolgg, que, experiente e resistente, absorveu grande parte do dano e permaneceu firme. Já Kobta viu-se ao lado de outro Espada da Floresta, pronto para surpreendê-lo. Mas um ventanista não pode ser pego de surpresa.

O inimigo desferiu dois ataques mortais: Kobta ergueu um Escudo Arcano, bloqueando o primeiro golpe, mas o segundo atravessou suas defesas, deixando-o com pouca vida.


A Batalha se Intensifica


O som metálico ecoou pela mata, revelando a presença de outros inimigos ocultos.

Jalim reforçou o grupo com sua música de bardo, Beleg disparou flechas certeiras (embora sem impacto decisivo) e Bolgg desferiu ataques devastadores. Mesmo assim, Kobta estava acuado e sem tempo para se recuperar.

No momento mais crítico, duas cobras mágicas — conjuradas por Zanzertain — surgiram e se sacrificaram para protegê-lo. Curiosamente, o mago nem conhecia Kobta pessoalmente ainda, mas mesmo à distância salvou sua vida.

Com a ameaça contida por instantes, Kobta conjurou magia de cura, recuperando boa parte de sua vitalidade, e voltou à furtividade para reposicionar-se.


A Estranha Energia Positiva de Galrásia 


O combate foi agravado por um fenômeno peculiar: ondas de energia positiva que, em excesso, causavam fadiga em todos, exceto Bolgg. Apesar disso, o grupo resistiu e, com esforço conjunto, derrotou os Espadas da Floresta.

Com Gyodai retornando do acampamento dos orcs e trazendo tesouros para venda, todos estavam cansados — inclusive ele, que também fora afetado pela energia positiva.


O Segredo dos Servos de Allihanna


Investigando a área, o grupo descobriu que os Espadas da Floresta protegiam Cervos, criaturas filhas de Allihanna, deusa da floresta. Esses Servos produziam uma seiva poderosa, capaz de curar diversas condições, inclusive a fadiga causada pela energia positiva.

Beleg, como caçador habilidoso, liderou uma operação precisa para derrubar um dos Cervos, permitindo que o grupo coletasse seiva suficiente para três doses. Jalim se prontificou a não tomar, permanecendo fatigado, enquanto os demais se recuperaram.


O Primeiro Passo de Kobta


Assim terminou a primeira jornada de Kobta no Grupo Cobra Véia:

sobreviveu, mostrou valor e deu o primeiro passo para se tornar um membro digno da lendária companhia. O kobold ventanista, antes um estranho encapuzado, agora fazia parte de algo muito maior.


Texto por Ivan Barbosa.

Revisão por Leandro Carvalho.

Imagem gerada por IA pelo Bing. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Orcs e carcajus




Atravessamos o riacho sob o murmúrio da correnteza, e, antes de mergulharmos novamente no caos, fizemos um breve piquenique. Não era um momento de paz — era a calmaria do predador antes do bote. Entre bálsamos e essências de mana, Jalin, como o bufão que é, retirou algumas garrafas de sua mochila. As bebidas não só aqueciam o corpo, mas incendiavam a alma; cada gole parecia afiar lâminas invisíveis dentro de nós. O álcool de Jalin transformava simples golpes em execuções.

Marchamos pela floresta, guiados por Thrak’Zul. As árvores cerradas guardavam o sussurro da morte que se aproximava. Num caminho estreito, vimos Orcs — não apenas perseguindo, mas caçando com selvageria uma ninhada de carcajus.

Thrak’Zul, com um brilho assassino no olhar, murmurou que eram da tribo rival. Bolgg, alheio à rixa, só pensava em domar um dos carcajus para a guerra. Um bárbaro e sua fera — era um pensamento tão perigoso quanto poético.

Foi o bastante. O combate começou.

Thrak’Zul atiçou Gyodai e Beleg, prometendo levá-los até a aldeia inimiga e aos tesouros que jazeriam sobre ossadas frescas.

Beleg, cujo ódio pelos Orcs rivalizava com o fogo de mil fornalhas, sentiu o sangue ferver. Os olhos se tornaram rubros como brasas, e a corda do arco gemeu sob a tensão. A Marca da Presa brilhou e a flecha partiu — cortando o ar como um grito. Atingiu o ponto fraco de um Orc, rasgando carne e osso. O monstro urrava, não de dor comum, mas de uma agonia que ecoaria no pós-vida.

Jalin ergueu a voz em canto, e sua música não era melodia — era uma marcha para a matança. Cada acorde inflamava músculos, cada verso transformava hesitação em sede de sangue.

Gyodai recordou as lições de Zanzertein e liberou uma névoa espessa que engoliu o campo de batalha, cegando inimigos e protegendo aliados. Seus punhos se cobriram com a fúria da tormenta; veios rubros pulsavam sob a pele, prometendo destruição.

Então Bolgg… Bolgg deixou a besta sair.

Ativou sua fúria bárbara e mergulhou na névoa, o rugido atravessando as almas dos Orcs. Guiado pelo Totem de Concentração, desferiu um golpe crítico que não matou — despedaçou. O corte partiu o inimigo em duas metades grotescas; vísceras e sangue espesso se espalharam como uma oferenda aos deuses da carnificina. Os Orcs, em vez de recuar, responderam com ódio renovado. A promessa de vingança foi cuspida com dentes cerrados.

Aric invocou um campo de força, transformando-se numa muralha viva.

Dentre os inimigos, surgiu Ghukk, o Vingativo. Rugiu que o Orc morto lhe devia uma dívida — e que agora cobraria em sangue. Avançou para perfurar o pescoço de Bolgg, mas uma das cobras mortas-vivas se arremessou diante da lâmina, morrendo outra vez para salvá-lo.

Rhol, o Desfigurado, vangloriou-se de treinar cortando cabeças de velociraptors e golpeou Bolgg na cintura — a lâmina ricocheteou contra a pele dura do bárbaro, mas deixou a promessa de mais dor.

Gon, o Cruel, auto-intitulado provador de caixões, investiu contra Aric. A armadura do mago refletiu o ataque com o brilho de um sol zombeteiro.

Jalin, rápido, ergueu a gema da iluminosidade, cegando Ghukk e acompanhando o ato com um discurso tão cortante que os próprios Orcs vacilaram.

Gyodai lançou magia de velocidade e agarrou dois Orcs pelo queixo,  impedindo que eles se apresentem com braços extras surgindo para esmagar rostos com uma fúria ritmada.

Bolgg não esperou — desferiu outro golpe colossal, transformando um dos Orcs presos em nada além de um lago de sangue e ossos pulverizados.

Aric, imitando a velocidade de Gyodai, sacou sua presa da serpente e atingiu Gon com um golpe harmonizado que perfurou a carne como manteiga.

A batalha se tornou uma dança macabra.

— Rhol tentou caçar Jalin na névoa… e acabou ferido na perna.

— Os Orcs presos tentaram se libertar para "se apresentar" antes de morrer. Gyodai riu. “Morrerão anônimos.”

— Outro caiu inconsciente sob seus múltiplos socos; Bolgg esmagou o último como quem apaga uma fogueira com o pé.

Aric matou Gon, o provador de caixões, deixando-o sem provar o próprio.

Foi quando surgiu um Orc de duas cabeças que se apresentava - Eu sou o Orcmutante — duas cabeças, o dobro da feiura. Avançou contra Jalin, que aparou um golpe e recebeu outro no corpo, o impacto sacudindo ossos. O bardo devolveu com uma chifrada brutal, antes de se curar com magia.

Os ataques seguintes foram uma carnificina encadeada:

— Rhol, o Desfigurado, morreu com uma flecha de Beleg atravessando seu pescoço.

— Gyodai prendeu mais dois Orcs, só para Bolgg matá-los como bonecos de pano.

— Aric perfurou o coração de Ghukk, o Vingativo.

— O próprio Orcmutante errou um ataque e atingiu sua própria cabeça num ricochete grotesco.

— Gyodai agarrou o monstro e esmagou suas duas mentes num abraço que virou massacre.

Quando a poeira e a névoa baixaram, o silêncio era pesado.

Bolgg, ainda com respingos de sangue no rosto, caminhou até um carcaju ferido. Ajoelhou-se, aplicou bálsamo e ofereceu comida. O animal, que minutos antes seria caça, olhou para o bárbaro com respeito instintivo. Talvez… um pacto tivesse sido selado.


Texto por Roberto Oliveira. 

Revisão por Leandro Carvalho. 

Imagem gerada por IA pelo Bing.